Um livro é uma colagem
Um livro é uma colagem Podcast
Sobre Liz Gilbert, Grande Magia e Amor
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Sobre Liz Gilbert, Grande Magia e Amor

A alegria de conhecer nossas referências literárias ao vivo
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Ano passado, vi um anúncio no Instagram sobre um evento com a escritora norte-americana Liz Gilbert. Como a acompanho há algum tempo, sei que ela não é de participar de muitos eventos. Achei que poderia ser mais um encontro com fãs em Minnesota ou um tour pelo Canadá. Na verdade, o post dizia que Liz faria um giro por algumas capitais europeias durante a primavera de 2024, começando por Londres. Fiquei endoidecida. Nem sabia o que estaria fazendo dali a oito meses, mas comprei o ingresso com a fé de que a agenda da vida me proporcionaria este encontro.

E ela me proporcionou.

Numa 3ª feira gelada, saí de casa em direção ao Barbican Centre, um espaço de artes e entretenimento no coração financeiro de Londres. Na bolsa, carregava meu exemplar do livro Grande Magia rabiscado com inúmeras flechas e círculos e anotações e inspirações. Apesar de Liz Gilbert ser conhecida pelo seu livro Comer, rezar, amar sobre sua viagem de autoconhecimento pela Itália, Índia e Indonésia, Grande Magia é o meu favorito da escritora, daqueles pra se voltar várias vezes em diferentes fases da vida.

Li o livro pela primeira vez durante a pandemia e, desde então, se tornou um companheiro-incentivador na minha trajetória como artista. Pra mim, dentre os livros sobre processos criativos, coloca O caminho do artista no chinelo (pronto, falei!). De forma leve e, ao mesmo tempo, lúcida, Liz universaliza a criatividade e mostra como o medo pode ser o maior inibidor de ideias que existe. Além disso, no livro, ela fala sobre a necessidade de se trabalhar duro sobre as ideias antes que elas migrem pras mentes e mãos de quem as desenvolverão. Penso que Grande Magia, ao lado de A Amiga Genial da Elena Ferrante, foram os livros que mais indiquei nos últimos tempos.

Carregar o livro comigo pro evento foi meio inútil. Num teatro com capacidade pra mais de mil pessoas, não haveria sessão de autógrafos após o fim do evento. Na realidade, nutria uma ilusão de que conseguiria um autógrafo de Liz em algum dos acasos do cotidiano: vai que ela estivesse saindo do mesmo vagão do metrô que eu ou comendo um croissant no Caffé Nero do meu caminho, ou esbarrando comigo na escada antes de entrar no palco. Risos.

Com casa cheia, Liz chegou ao palco vestindo um terno preto. Não usava os óculos de aros coloridos que tem se tornado a marca registrada de seus vídeos no Instagram. Seu cabelo ainda estava raspado, pelo jeito, deve ter curtido a liberdade de não os pentear. Pediu pro público, quase todo feminino, pra tirarem fotos apenas no início. Em determinado momento da conversa, pediu pra que uma pessoa parasse de usar o celular; segundo ela, isso a distraía. Antes de retomar sua fala, disse: “não se preocupe, ainda te amo, ok?”.

Liz pegou o microfone naquela noite pra falar sobre Amor. Sobre como tem escrito cartas a si mesma, por mais de 25 anos, como uma forma de se auto aceitar e mudar sua percepção sobre o que é o Amor. Inclusive, ela criou um Substack como este chamado Letters from Love with Elizabeth Gilbert em que compartilha cartas escritas por ela e incentiva as pessoas a escreverem suas próprias. Segundo a escritora, ela já tem mais de cem mil inscritos. Wow!

A conversa de quase duas horas flertou com a autoajuda, o que não é taaaanto a minha praia. Ainda assim, escutá-la falar é um deleite. Seu inglês é claro, sua voz é relaxante, sua história de vida é interessantíssima. Durante a sessão de perguntas, Liz ainda falou sobre carreira nas artes, o livro de memórias que pretende publicar sobre seu relacionamento com Rayya Elias, a polêmica de ter anunciado um livro sobre uma família que decide morar na Rússia em plena Guerra na Ucrânia.

Voltando pra casa de metrô, peguei meu exemplar de Grande Magia e comecei a relê-lo. Talvez não tenha sido tão inútil assim carregá-lo comigo.

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🔷 Escrita & Colagem & Etc

Nesta seção, postarei o que tá rolando no meu trabalho como escritora, colagista, mentora de escrita. Ah, sempre haverá uma sugestão de exercício pra você começar a esboçar as suas histórias.

PUB & WRITING: Ainda dá tempo de participar do PUB & WRITING de Abril. Ainda tem vagas para o dia 22/04 (2ª feira) às 18h45, no Prince Alfred (Maida Vale). Inscrições aqui.

EVENTO LITERÁRIO: Acontecerá em Londres, no dia 31 de maio, a 1a Feira Literária Internacional em Língua Portuguesa, a FLILP. Haverá palestras, vendas de livros e encontros com escritores que escrevem em português. Participarei em dois momentos do evento: em uma mesa falando sobre aprender Escrita Criativa no Reino Unido e mediando uma mesa sobre a Literatura Escrita por Mulheres. O evento é gratuito, mas é necessário fazer inscrição; para isso, basta acessar este link.

EXERCÍCIO: Escolha um livro qualquer, de preferência de ficção. Abra uma página aleatoriamente e pegue a primeira frase do página. Escreva um texto tendo como inspiração alguma palavra da frase lida. Use a imaginação e a memória, sempre há algo a recorrer dentro da gente durante a escrita.


🔷 Colagem de Dicas

Neste seção, um compilado do que tenho curtido na literatura, no cinema, nas redes sociais, no Substack.

LIVRO: Maneiras de temer o fim do mundo é o primeiro romance da escritora e tradutora Maria Alice Stock, publicado pela Editora Helvetia. Trata-se de um livro de formação, que se passa entre a década de 1980 e os dias atuais, escrito a partir das memórias da infância, adolescência, vida adulta e maternidade da personagem-autora. Como um mosaico de histórias, somos convidados a viajar por um mundo sem internet, onde as músicas pop do a-ha, Alphaville e The The reinavam e nossos olhos brilhavam com a mágica por trás das máquinas de refrigerante. Alice é poética ao reparar nos detalhes que fazem entes amados serem o que são, ao compreender o que há por trás dos silêncios, ao recorrer às “borboletas da saudade dentro da barriga”. Um livro de estreia lindo, de uma autora sensível e precisa. Pra quem não sabe, tive a alegria de ser convidada pela Alice pra fazer a arte da capa em colagem, inspirada na leitura que fiz do romance. Um privilégio, sem dúvida nenhuma.

INSTAGRAM: São ótimos os desenhos do desenhista e tatuador Matheus Tomé no perfil @matheustomes. Com um traço simples, quase infantil, Matheus fala da contemporaneidade, do cansaço, do cotidiano. As frases escritas em pedaços de papel também são cômicas e inteligentes, como se traduzissem nosso imaginário/ comportamento em meia dúzia de palavras. Genial.

NEWSLETTER: Os textos da escritora Fabiane Guimarães no Tristezas de Estimação falam sobre a angústia de se trabalhar com a escrita no Brasil, sobre processos criativos, sobre a conciliação entre maternidade e a criatividade. No texto de ontem, intitulado Ilusões perdidas, me identifiquei com o seguinte trecho, uma vez que pausei a escrita do meu romance precisamente no ‘meio’:

Meu livro novo chegou a 75 páginas. São 18.688 palavras. Estou mais ou menos na metade, pelos meus cálculos. O meio é a parte mais difícil de qualquer processo. Não tem o charme dos começos, que são frescos e não cheiram a arrependimento. Nem trazem a revolução dos finais – o fim pode trazer alívio ou dor, com frequência os dois ao mesmo tempo, mas tem esse privilégio de acabar. O meio é um lugar complicado com paredes mofadas, ali as esperanças são trancadas no banheiro e morrem asfixiadas, por isso é no meio que as pessoas costumam desistir.

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Olá, meu nome é Sandra Acosta, sou escritora, colagista e podcaster. Esse é um espaço pra compartilhar reflexões sobre escrita criativa, processos criativos, projetos artísticos e cinema.
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Sandra Acosta