Podcast é uma forma de contar histórias
O lançamento d'O Grande dia para as Escritoras Podcast
Nesta semana, nasceu mais um projeto de podcast no qual eu me envolvi. é o meu quarto podcast e, a cada um desses lançamentos, sinto uma renovação na minha forma de escrever, ampliando a percepção sobre o que é contar uma boa história.
A minha experiência com os podcasts começou há quase três anos. Em maio de 2021, ainda vivíamos num mundo confinado e eu havia recém-decidido me dedicar à escrita. Tinha tempo pra me dedicar a novos projetos. Foi quando eu e a minha amiga Marina Monteiro tivemos a ideia de criar um podcast chamado As Amigas Geniais pra falarmos sobre literatura, leitura, sororidade, processos criativos. A gente não sabia de nada sobre esse universo, nem como gravar, como editar, como convidar as pessoas, como promover um podcast. Foi tudo na raça e deu certo. Fiz parte de 60 episódios, um marco interessante, uma vez que a maioria dos podcasts não passa do episódio 20.
Em seguida, resolvi criar meu primeiro podcast solo e assim nasceu A hora da virada Podcast. Por mudar de carreira e ter uma enxurrada de dúvidas sobre esse processo, considerei providencial conversar com outras pessoas que haviam passado por movimentos parecidos. E por que não gravar essas conversas e deixá-las disponíveis pra outras pessoas que também estivessem com o mesmo desejo de mudar? Com esse mote, fiz 36 entrevistas e compartilhei histórias incríveis de superação, coragem e transformação.
O Grande Dia para as Escritoras Podcast é um podcast narrativo de 53 minutos que conta a história por trás do movimento que reuniu mais de 2300 escritoras em 49 cidades do Brasil e no mundo em junho de 2022. O objetivo inicial era reunir mulheres escritoras pra tirar uma foto, mas o movimento foi além. Além de permitir que as participantes se sentissem pertencentes a um grupo, o movimento foi um catalisador de novos projetos e fez com que muitas mulheres se assumissem como escritoras. O podcast seria um espaço para compreender, ainda mais a fundo, o que consistiu a participação no evento. Ao contar as histórias das participantes, daríamos uma dimensão mais intimista, como forma de compreender as motivações, as diferenças, os desafios, os medos e as alegrias de quem foi fotografado naquele dia.
A ideia do podcast surgiu numa madrugada de agosto de 2022, após participar de uma vídeo com as lideranças por trás de cada foto. Eu era a liderança-de-uma-pessoa-só de Tallinn, na Estônia (contei essa história numa newsletter - link aqui). Na conversa, só observei o entusiasmo e a energia daquelas mulheres em contar suas experiências durante e após a foto. E logo me veio o pensamento: e se usássemos uma “lupa” em cada uma das fotos e contássemos as histórias de quem participou delas? Compartilhei a ideia com a escritora Giovana Madalosso, idealizadora do movimento e força-motriz das ações. Ela topou na hora.
Eu havia feito um podcast narrativo no Mestrado (contei essa história na newsletter passada, leia aqui) mas esse projeto era mais ambicioso. Teríamos que selecionar algumas escritoras e dar a diversidade de vozes característica do movimento. Depois marcar as entrevistas, fazer as conversas – aqui contei com o trabalho da escritora Andréia Mariano, minha amiga do Mestrado –, transcrever todo o áudio em texto, revisar a transcrição, selecionar as frases mais marcantes, criar uma estrutura narrativa, encaixar as falas na história, revisar e corrigir o roteiro, identificar a minutagem das falas no áudio, fazer a locução. Sobre essa etapa, tive que fazê-la duas vezes: uma de dentro do meu armário – que não deu certo porque o som ficou cheio de eco – e outra num estúdio aqui em Londres, tendo o apoio virtual da escritora Paula Carvalho via Zoom. Por fim, a pós-produção ficou a cargo da Janga, uma produtora de som para o mercado audiovisual, liderada pela escritora Tatiana Nascimento, com produtores 100% pretes.
Foi uma emoção inexplicável ver o projeto pronto. Posso ser suspeita, mas o resultado ficou profissional, interessante, comovente. Sobretudo porque todas as horas e mais horas de trabalho envolvidas ali foram voluntárias, sem o apoio e o patrocínio de ninguém. Inclusive, a própria veiculação é independente, desvinculada de qualquer jornal, revista ou portal.
Ouça o podcast, comente, compartilhe. Ele fala de mulheres e literatura, mas é pra todos. Porque arte e cultura diz respeito a todos nós.
COLAGEM DE DICAS
LIVRO: O livro FIM, da atriz e escritora Fernanda Torres, está nos holofotes por conta do lançamento da série homônima da Globo Play, baseada na obra. Trata-se da história de cinco amigos ao longo de quase cinco décadas de amizade e suas histórias de paixão, vício, decepção e traição até a morte de cada um deles. O livro está estruturado em capítulos sobre cada um dos homens, porém, as histórias secundárias dos amigos são magistralmente costuradas à principal, dando novas nuances aos fatos até então definitivos. Fernanda Torres cria personagens riquíssimos, com a cara do Rio de Janeiro dos anos 70-80-90-2000 e é impossível não se envolver em cada um dos dramas contados. Não vejo a hora de assistir à história; se ela entregar metade do que foi o livro, já estarei no lucro.