Livros de viagens para escrever sobre viagens
ler - escrever - viajar: um combo para três vidas
Existe uma máxima entre as escritoras e os escritores de que é imprescindível ler para escrever, isto é, antes de uma escritora / um escritor existe uma leitora / um leitor. Por meio do que foi criado gerações e gerações antes de nós, aprenderemos a usar palavras com acurácia, saberemos articular ideias e teremos insumos para novas histórias. Nada surge da espontaneidade, do improviso, do talento inato. Somos frutos do que vivemos, de quem compartilhamos nossos momentos, daquilo que nos nutre intelectualmente.
Nas últimas semanas, me dediquei a pesquisar livros sobre viagens em virtude da minha oficina de escrita de viagem As viagens são os viajantes. E sobre livros de viagem, não estou falando de guias ou revistas de turismo, mas aquelas obras em que homens e mulheres usaram a literatura para expressarem seus aprendizados e deslumbramentos acerca de uma nova cidade, país, aventura. Livros-diário, poesia, crônica, ensaio, prosa, memórias – formas diversas e criativas para dar conta do universo que pode caber dentro da experiência de viajar.
Nunca li intencionalmente livros de viagem e nunca os considerei favoritos, apesar de gostar de viajar. Refletindo sobre esse tema, percebo que o gênero “escrita de viagem” não seja tão explorado assim pelo mercado editorial brasileiro e, em consequência disso, não se fale tanto deles. Lembro de, há alguns anos, procurar um livro de viajantes para dar de presente ao meu marido na maior livraria de Curitiba. Não encontrei nada além dos Lonely Planet e Guias Folha.
Pouco a pouco, fui lembrando dos livros que li e descobrindo outros considerados cânones no tema. Vou compartilhar quatro livros como uma forma de incentivar a leitura desse tema tão encantador.
Livre, de Chryl Strayed. No livro, a autora conta sua aventura de percorrer quase 1800 km a pé, da Califórnia até o estado de Washington, na Pacific Crest Trail. Enquanto os quilômetros vão sendo superados, a autora recupera seus traumas e problemas, dentre eles a perda da mãe, o uso de drogas e o fim de um casamento.
Paris é uma festa, de Ernest Hemingway. O jovem autor, então com 22 anos, compartilha com os leitores a experiência de viver na cidade-luz durante os anos 1920 enquanto conhece intelectuais como Gertrude Stein, James Joyce, F. Scott Fitzgerald. A partir das dificuldades de adaptação em um novo país e do deslumbramento com as possibilidades que Paris lhe proporciona, Hemingway vai refletindo sobre sua escrita e seu desejo de se tornar escritor.
Um lugar na janela – Relatos de viagem, de Martha Medeiros. De uma forma descontraída e leve, a escritora conta, em textos curtos, suas lembranças de viagem em diversas fases de sua vida. Depois desse livro, Martha Medeiros lançou mais dois livros com mesmo nome, continuando a relatar as histórias que viveu pelo mundo afora.
A arte de viajar, de Alain de Botton. O livro faz uma reflexão sobre as motivações que levam o viajante a abandonar o conforto do lar e a enfrentar o desconhecido. Percorrendo diversas cidades pelo mundo e utilizando o conhecimento de intelectuais que refletiram sobre o ato de viajar, Botton aprofunda o tema para uma questão filosófica, nos inspirando a pensar nos deslocamentos como jornadas rumo a nós mesmos.
Dica bônus: Poemagem: poesia e colagem pra viagem, de Sandra Acosta (eu!). Em cada uma das 24 poesias do livro, eu faço um mergulho poético nas minhas memórias de viagens por cidades, países, planetas e livros, desde a infância em São Vicente até a rotina como estrangeira em Londres. Símbolos, sons e silêncios permeiam os versos, revelando uma busca incessante pelo “mundo de fora” para encontrar a essência do que está no “mundo de dentro”. As colagens manuais criadas por mim, assim como a encadernação artesanal da Editora Arpillera, dialogam com os poemas, sendo convites à ampliação do sentir, do imaginar e do viver.
E você, tem alguma dica de livro de viagem para eu incluir na minha lista de leitura?
COLAGEM DE DICAS
LIVRO: Em Maneiras de temer o fim do mundo, a escritora Alice Stock escreve uma série de pequenos textos-preciosidades sobre o amadurecer de uma garota até a sua vida adulta. A relação com a família, a fazenda dos avós, o medo do mundo acabar, a perda, a adolescência, a vida fora do Brasil, a maternidade: uma série de relatos que causam encantamento e identificação em quem viveu a intensidade os anos 80 e 90. Conta ainda com uma colagem na capa produzida por mim (yey!). Ela lançará seu livro amanhã em Genebra e participará do Salon du Livre - Genebra no dia 08/03.
Sensacional!!!
Sandra, os livros de viagem do Paul Theroux são fantásticos! Amo o The Great Railway Bazaar, sobre uma viagem de trem entre Europa e Ásia 🙂